“Criar condições para o progresso das pessoas e da sociedade é função primordial de uma cooperativa” – Rogério Griguc é Diretor de Mercado do Sicoob Confiança

Escrito em 21/06/2024
MundoCoop

A França está na vanguarda quando o assunto é ESG. O termo foi lançado pela primeira vez no país, que além de ter superado vários desafios, está a longos passos à frente do Brasil quando se trata de aplicação dessa agenda. As cooperativas que desejam avançar no assunto, têm escolhido o país como fonte de conhecimento, seja através de cursos, imersões e experiências.

Com o objetivo de se aprofundar nos conceitos e tendências ESG, que o Diretor de Mercado do Sicoob Confiança, Rogério Griguc viajou ao país. A Sicoob Confiança é uma cooperativa de crédito com atuação no estado do Paraná e no Rio Grande do Sul, e por fazer parte do sistema Sicoob, tem abrangência e impacto nacional.

Em entrevista à MundoCoop, Griguc revela como foi a experiência de frequentar a Toulouse Business School, e quais conhecimentos ele trouxe na bagagem, para aplicar no dia a dia da cooperativa e de seus cooperados.

Confira!

Quando resolveu fazer uma experiência e imersão na França com o objetivo de obter novos aprendizados? 

Anualmente procuro fazer alguma formação em escolas de negócios conceituadas no exterior para melhorar a abordagem a diversos temas correlatos a minha função. Nesse ano o tema ESG está especialmente em voga, por conta de tragédias climáticas e discussões nos ambientes frequentados por mim, e tive a feliz notícia de uma missão a Toulouse Business School justamente sobre esse tema. Isso veio a calhar e fiquei feliz com essa oportunidade. 

Às vezes convivemos com cidades violentas, dificuldades para empreender e qualidade de vida abaixo do possível por nos conformarmos com isso, justificando por exemplo que determinada situação se deve ao fato da cidade ser grande demais ou pequena demais. Lá, por exemplo, se vê que a vida em comunidade na realidade é mais afetada por fatores culturais e pelo modo como as pessoas se relacionam entre si. Isso nos faz voltar motivados a perseguir padrões mais elevados aqui na nossa área de atuação.

De que maneira esses aprendizados foram compartilhados com a comunidade de cooperados? 

Tenho tido bastante espaço em veículos de comunicação locais, e nesses espaços vou compartilhando os avanços conseguidos nos países desenvolvidos pela utilização de boas práticas do ESG como aceleradores para uma vida melhor. Compartilho da ideia de que cada um pode contribuir um pouco com essa evolução, pois é normal na nossa sociedade, esse jogo de empurra, onde as pessoas atribuem às empresas e governo a responsabilidade. Precisamos quebrar esse ciclo e passar a um novo momento, em que todos reconheçam seu papel e se ponham em ação na execução da sua parte.

Como os cooperados podem agregar à comunidade em que a cooperativa está inserida? 

O impacto potencial é enorme, pois na realidade hoje a exploração da fração E (Environment/ambiente) é a mais difundida do ESG. Mas também temos pontos de atenção no S (social), que se refere a nossa organização social e ao G (Governança) que refere-se à gestão empresarial e governamental transparente, justa e baseada em bons princípios. A mensagem pode ser longa, mas passa por conselhos práticos como uso de energia limpa (Solar, Eólica, etc) no lugar de combustíveis; classificação de lixo para reciclagem, atenção a mobilização social para boas causas, empreendedorismo responsável, e por aí vai…

Sempre que a sociedade como um todo melhora, o ambiente para empreender melhora também. Criar condições para o progresso das pessoas e com isso da sociedade como um todo é função primordial de uma cooperativa como a nossa. Somos e queremos ser reconhecidos como uma empresa do bem, da qual se possa ter orgulho em participar. Sabemos que nosso povo é bom, e ao adotarmos padrões e valores elevados para a nossa cooperativa estamos criando condições para que acreditem nas mesmas coisas e se vinculam e fortaleçam nosso movimento causando verdadeiras transformações, beneficiando diretamente a comunidade e a cooperativa.

Qual é a visão sobre a aplicação do ESG nas cooperativas atualmente? 

As cooperativas estão naturalmente ligadas a esses temas pela sua natureza, princípios e valores. Creio que uma parte da nossa tarefa é simples, de conscientização interna demonstrando que já fazemos diariamente muitas coisas que poderiam ter o selo ESG, mas simplesmente não nos damos conta disso e nem valorizamos adequadamente, e acredito ainda que nessa jornada iremos identificar muitos espaços para implementar ações de alto impacto ambiental e social, demonstrando a comunidade local que ações simples geram grandes resultados se forem feitas de modo ordenado e simultâneo; essa é a mensagem central do cooperativismo: juntos temos mais força do que isoladamente.

Temos procurado conversar mais sobre o tema e sensibilizar os diversos atores para a sua fração de responsabilidade individual. Também estamos tendo a oportunidade de discutir o ESG demonstrando que não se trata de custo sem retorno, conforme a crença de muitos, mas sim de um investimento de alto valor e geração de resultados futuros.

Quais são as iniciativas do Sicoob, com o foco em ESG, que podem servir de exemplo para o setor?

Estamos incentivando o crédito para investimento na geração de energia solar, carros híbridos que emitem menos carbono (causador de efeito estufa), consumo de empresas locais (impacto de carbono menor por não envolver transporte de longo curso e desenvolvimento social pela geração de novos empregos), investimentos em educação financeira que auxiliam as pessoas a melhorarem suas vidas, apoio ao empreendedorismo, agricultura sustentável, entre outras. De fato estamos já fazendo muitas coisas, que têm alto impacto na transformação social, e com nosso ganho de escala poderemos fazer ainda mais.


Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop