Ao lado de estudiosos, líderes e profissionais cooperativistas de países como Argentina, Uruguai, Chile, México, Nicarágua, Porto Rico e Brasil, participamos no início de setembro, no Uruguai, do Encontro de Pesquisadores do Cooperativismo da América Latina (Eilac). A abertura foi realizada por Graciela Fernández, presidenta da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) Américas, que destacou a importância do movimento cooperativista na construção de sociedades mais justas e sustentáveis.
O evento teve palestras, apresentações de estudos e eventos culturais que enriqueceram o intercâmbio de experiências e ideias, discutindo o presente e o futuro do cooperativismo. Entre os muitos temas debatidos, apresentamos cinco percepções que se destacaram como especialmente relevantes para o cooperativismo brasileiro:
1. A força do cooperativismo habitacional no Uruguai
No Uruguai, o cooperativismo habitacional é uma peça estratégica para enfrentar o déficit habitacional. O país possui políticas governamentais que promovem ativamente o cooperativismo de “vivendas”, tornando-o um pilar central na solução de problemas sociais. No Brasil, embora haja cerca de 280 cooperativas habitacionais, o tema ainda não tem a mesma relevância que no país vizinho. Isso aponta para uma oportunidade de aprendizado e evolução, já que o setor habitacional no Brasil tem um grande potencial de expansão.
2. A dicotomia ‘Produtor’ e ‘Comprador’ no cooperativismo global
Enquanto o cooperativismo na América Latina e em outras partes do mundo tende a se organizar em torno das perspectivas de “produtores” ou “compradores”, no Brasil, o movimento cooperativista está estruturado em sete ramos específicos. Embora essa divisão funcione bem no contexto brasileiro, é interessante observar como uma abordagem mais simplificada, como a adotada internacionalmente, pode facilitar a integração e a colaboração entre diferentes tipos de cooperativas.
3. O desafio da sistematização no Uruguai
O Uruguai está desenvolvendo um modelo de gestão cooperativista inspirado no Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas (PDGC), com foco em melhorar a eficiência e a governança das cooperativas. Esse modelo, se bem implementado, pode servir como referência para outros países latino-americanos, inclusive o Brasil, onde o aprimoramento da gestão cooperativa também é uma necessidade crescente.
4. Diferenças entre o cooperativismo brasileiro e latino-americano
Ao analisar o cooperativismo brasileiro em relação ao latino-americano, nota-se que o Brasil se destaca pelo tamanho e pela pujança de suas cooperativas. O movimento cooperativista brasileiro cresceu significativamente, mas, em contrapartida, o cooperativismo em outros países da América Latina parece mais desenvolvido em termos de compromisso social. Enquanto o Brasil foca no crescimento econômico, as cooperativas latino-americanas têm uma abordagem mais voltada para o impacto social.
5. O desafio do cooperativismo brasileiro: resgatar sua essência
A última percepção aponta para um desafio importante: o cooperativismo brasileiro precisa usar sua força e tamanho para resgatar a essência da identidade cooperativa. O movimento cooperativista existe, fundamentalmente, para melhorar a vida dos cooperados, e esse princípio precisa ser sempre mantido no centro das ações das cooperativas. O crescimento econômico é vital, mas não deve ofuscar o compromisso social, que é a base do cooperativismo.
As reflexões do Eilac deixam claro que o cooperativismo na América Latina é diverso e tem muito a ensinar ao Brasil. Ao mesmo tempo, o Brasil, com sua força e abrangência, tem muito a contribuir para o fortalecimento do movimento cooperativista em todo o continente.
*Alexandre Garcia, Deivid Forgiarini e Pedro Büttenbender; Doutores e pesquisadores no cooperativismo