A Coocafé e a NetZero firmaram uma parceria na produção de café produzido com Biochar. O negócio é pioneiro no cooperativismo brasileiro, em 2023, a parceria deu fruto à primeira usina de produção em larga escala, da América Latina, no município mineiro de Lajinha. 

O biochar é desenvolvido com os resíduos agrícolas e tem envolvido mais de 300 produtores cooperados. Eles têm fornecido as palhas do café para abastecer as duas usinas. Atualmente, são produzidas mais de 50 toneladas de café com biochar da francesa NetZero com a Coocafé. O material foi negociado com a trading japonesa Marubeni. 

A MundoCoop conversou com Fernando Romeiro, Diretor-Presidente da Coocafé e Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da NetZero, que contaram sobre a parceria, os seus benefícios e os próximos desafios.

Confira!

Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da NetZero

Como aconteceu a parceria com a cooperativa para negociar café produzido com Biochar com empresa do Japão?

Fernando Romeiro, Diretor-Presidente da Coocafé: Essa parceria com a NetZero iniciou-se por volta do ano de 2022, concluindo com a construção de uma fábrica de produção de biochar. Ele é a transformação de um resíduo, uma palha de café, em um biocarvão. Esse biocarvão volta para as lavouras e é utilizado como um condicionador de solo e um auto retentor de água. O objetivo é fazer o resgate de carbono, além de não o emitir, com a decomposição ou queima da palha. A ideia é resgatar o carbono e melhorar o condicionamento do terreno. 

Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da NetZero: A NetZero estabeleceu uma parceria com a Coocafé em 2022. A Coocafé foi a primeira cooperativa parceira da NetZero no Brasil, que apoiou a implementação da fábrica no país. Ela tem um forte posicionamento de sustentabilidade e uma cultura de inovação, por isso, rapidamente identificou o biochar como uma solução de alto potencial para o café. Os parceiros da Coocafé produziram o primeiro café com biochar. A NetZero já estava em contato com a Marubeni, um conglomerado japonês grande, com atividades de comércio de café, e conectou a empresa à Coocafé para discutir a oportunidade de comprar este primeiro lote produzido com biochar.

Como surgiu a ideia e a iniciativa dessa parceria?

Fernando: O objetivo da cooperativa é produzir de forma sustentável, pois esse é o caminho que o mundo segue atualmente. Isso faz parte da nossa estrutura e filosofia de trabalho. Essa parceria com a NetZero pode nos trazer uma boa caminhada dentro dos pilares do ESG. Este ano, inclusive, foi feita a primeira venda para Marubeni de dois contêineres de café, um montante de 880 sacos, com um diferencial em relação ao mercado. 

Olivier: Desde o início de suas operações, a NetZero compartilhou com os agricultores, que o biochar aumentaria a sustentabilidade de sua produção de café, e que isso acabaria sendo reconhecido pelo mercado. A NetZero está em contato com várias empresas no setor de café, vê o interesse crescente em torno do biochar dessas empresas e tem se esforçado para cumprir sua promessa com os agricultores.

Quanto do café produzido com biochar foi vendido para a empresa japonesa? 

Fernando Romeiro, Diretor-Presidente da Coocafé

Olivier: A parceria se concretiza com o envio, em setembro, dos dois primeiros contêineres contendo 880 sacos de café ao Japão, o equivalente a 52,8 toneladas, todos produzidos com biochar da NetZero. São mais de 40 produtores. O condicionador de solo produzido a partir do carbono, contido nos resíduos agrícolas, o biochar atua como uma “esponja” que retém água e nutrientes de forma duradoura no nível da raiz da planta. Isso permite uma única aplicação, aumenta a produtividade das culturas e, ao mesmo tempo, reduz significativamente o uso de fertilizantes, que atualmente contribuem para uma parcela significativa da pegada de carbono do café. Ele oferece muitas vantagens, uma delas é a da redução das emissões de carbono, reconhecido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O produto também desempenha um papel importante no aumento da resistência das plantas durante as secas e outros eventos climáticos extremos, e oferece uma forma sustentável e produtiva para o descarte dos resíduos agrícolas

Quais são os desafios e as expectativas futuras da produção?

Olivier: Se você falar sobre biochar, nós só o vendemos localmente, para os mesmos agricultores, que nos fornecem a biomassa, então nenhum biochar é exportado. A NetZero está confiante de que este anúncio com a Marubeni, apenas um ano após a primeira aplicação de biochar no Brasil, é o primeiro passo de uma tendência mais global no mercado para reconhecer produtos sustentáveis.

Em termos de pesquisas tecnológicas, como elas têm sido realizadas e o que precisa ser feito na melhora da qualidade do produto? 

Olivier: A NetZero estabeleceu muitas parcerias de pesquisa agronômica com universidades brasileiras e centros de pesquisa públicos. Este grupo de pesquisa co-projeta e acompanha os resultados de experimentos, que visam definir as melhores quantidades de aplicação para cada tipo de cultura, tipo de solo. O objetivo é melhorar a combinação com fertilizantes em função do manejo dos produtores.

O que agrega a parceria entre a empresa e a cooperativa nessa produção sustentável?

Fernando: Há mais de 300 produtores aqui na região de Lajinha. São várias cidades no entorno que já estão dentro desse programa de entrega de palha e retirada do biochar para usar em suas lavouras. Tanto nas lavouras em produção como nos novos plantios. É claro que com a construção de novas fábricas, esse número de produtores tende a aumentar consideravelmente. Estamos buscando parceiros, a própria Marubeni, ou outros parceiros interessados em adquirir o café com o biochar. 

Olivier: A cooperativa é a responsável pela comercialização do café dos produtores locais e vem apoiando o uso do biochar NetZero na região das Matas de Minas para trazer mais valor aos produtores.


Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop