Na atualidade um dos temas mais evidentes nas cooperativas têm sido as inovações e as transformações digitais em seus conselhos administrativos. Uma pesquisa da PwC Brasil e da Fundação Dom Cabral (FDC) sobre o Índice de Transformação Digital Brasil (ITDBr), mediu o nível de maturidade digital das empresas e apontou o atual cenário do setor, acerca do tema.

Segundo o estudo, existem ainda inúmeros obstáculos a serem enfrentados pelas empresas e cooperativas para que se mantenham em conexão com as inovações e tendências digitais, tanto em seus serviços, quanto em seus conselhos administrativos. Estar atentos a essa realidade, é crucial para sanar tais gargalos e aplicar de forma efetiva, novas práticas e ideias.

Para explorar desafios e oportunidades, a MundoCoop conversou com Elisa Nehme Simão, sócia da PwC Brasil, Líder do Centro de Excelência para Cooperativas de Crédito. Simão fala sobre a importância de se enfrentarem esses desafios e trazer cada vez mais a tecnologia e as atualizações para dentro das cooperativas.

Confira!

Como as cooperativas podem manter os seus conselhos administrativos e negócios inovadores? 

Muitas cooperativas vinculam a agenda de inovação unicamente com a implementação de tecnologias de ponta e modernas.

Entretanto, antes de tudo, é fundamental que os Conselhos de Administração e Diretorias Executivas das cooperativas mapeiem adequadamente qual(is) o(s) problema(s) que a organização busca resolver a partir de movimentos de inovação, como se encontra o preparo e formação de suas equipes (desde os profissionais envolvidos no desenvolvimento e implementação, até os profissionais que serão usuários/beneficiários) e ainda qual o seu orçamento para investimento em inovação previsto.

Estruturar comitês técnicos, os quais suportem e proponham aos Conselhos Administrativos sobre a temática de inovação de forma estruturada e pautada em metodologias de mercado. Esse é um excelente meio para discutir e endereçar o alinhamento desta pauta com a alta administração da cooperativa, com as demandas de seus cooperados/ do mercado e, por conseguinte, com o perfil de competências de seus colaboradores.

Como trazer isso para o dia a dia e de que maneira isso ajuda nos negócios e no sucesso das organizações?

Ainda que existam temáticas de inovação evidentes e relevantes no Sistema Financeiro Nacional, no qual as cooperativas de crédito (SNCC – Sistema Nacional de Crédito Cooperativo) estão inseridas, passando por novos produtos e meios de atendimento que podem ser desenvolvidos via Open Finance e DREX, por exemplo. É fundamental que as lideranças das cooperativas garantam que todas as iniciativas de inovação estejam conectadas à estratégia da cooperativa e tenham uma governança adequada durante a sua execução. 

Qual é a importância da governança para a evolução das cooperativas?

Sem a governança essas iniciativas se tornam projetos isolados, desconexos à estratégia da cooperativa, que não geram resultados esperados e ainda desviam o foco de investimentos da cooperativa. O êxito de projetos de inovação nas cooperativas, sem dúvida, consiste em adequados mecanismos de governança e gestão. 

Outra dimensão relevante que os conselhos de administração devem estar atentos para a promoção de uma cultura de inovação bem-sucedida é o de pessoas e cultura. O que consiste no desenvolvimento de líderes preparados para conectar negócios e tecnologia e a criação de mecanismos dinâmicos e modernos de treinamento voltados à disseminação do conhecimento em todos os níveis organizacionais da cooperativa. 

Quais são os maiores desafios dentro desse processo?

O Índice de Transformação Digital Brasil 2023 (ITDBr), indicou que Estrutura e Cultura como o principal obstáculo enfrentado pelas empresas no processo de implementação de projetos de transformação digital.

Os resultados do ITDBr 2023 chamam atenção para a diferença dos níveis de maturidade digital entre os segmentos. O segmento de serviços financeiros, no qual as cooperativas de crédito possuem atuação relevante, apresentou o nível de maturidade mais elevado da pesquisa, com sete das dez dimensões com índices acima de 4 (quatro). Já no segmento de agronegócio, onde também há uma representativa participação de cooperativas agrícolas, o índice geral foi 03 (três), demonstrando que há oportunidades importantes nas dimensões de governança (índice 2,7) e de adoção de inteligência artificial (índice 2,0).

Quais são as tendências mais importantes de governança nas cooperativas?

São muitas as tendências mais relevantes para a governança das cooperativas. Como destaque, sendo a maioria delas diretamente conectadas ao tema de inovação e outras indiretamente, podemos referir as seguintes: transformação digital, inteligência artificial, gestão de riscos, segurança cibernética, privacidade de dados, resiliência dos negócios, ESG e momento de regulamentação do novo marco legal do cooperativismo de crédito – LC 196 (específico e aplicável somente às cooperativas deste segmento).


Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop