O cooperativismo de crédito no Brasil tem se mostrado uma força significativa para o desenvolvimento econômico e social. Este estudo, conduzido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), avalia os impactos econômicos e sociais das cooperativas de crédito no Brasil, utilizando uma combinação de dados públicos e metodologias qualitativas e quantitativas.

O estudo tem como objetivo principal quantificar os impactos do crédito concedido por cooperativas para famílias e empresas nos últimos cinco anos. Utilizando a Matriz Insumo-Produto (MIP) e a metodologia de diferenças-em-diferenças, o estudo analisa variáveis como atividade econômica, valor adicionado, empregos, salários e arrecadação de impostos.

O cooperativismo de crédito no Brasil tem uma longa história, com um crescimento significativo nas últimas décadas. Em 2023, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) contava com 768 cooperativas singulares, 30 cooperativas centrais, 4 confederações e 2 bancos cooperativos, atendendo a 17,3 milhões de associados.

As cooperativas de crédito no Brasil estão organizadas em três níveis principais:

  • Cooperativas Singulares de Crédito: Atendem diretamente aos associados.
  • Cooperativas Centrais de Crédito: Coordenam e suportam as cooperativas singulares.
  • Confederações de Crédito Cooperativo: Coordenam estrategicamente e representam politicamente o sistema cooperativo.

As cooperativas de crédito possuem características que as diferenciam das instituições financeiras tradicionais, como bancos comerciais. Entre os principais diferenciais, destacam-se:

  • Governança Democrática: Cada associado tem direito a um voto nas assembleias, independentemente da quantidade de capital que possui na cooperativa. Isso promove maior transparência e participação direta na gestão.
  • Redistribuição das Sobras: As cooperativas de crédito redistribuem os excedentes financeiros (sobras) entre seus associados, proporcionalmente ao uso dos serviços. Diferentemente dos bancos tradicionais, que distribuem lucros apenas para seus acionistas, as cooperativas retornam os resultados positivos para os associados.
  • Preços e Tarifas Mais Justas: As cooperativas de crédito podem oferecer tarifas mais justas, linhas de crédito e taxas de juros mais competitivas, especialmente para micro, pequenas e médias empresas, além de pequenos produtores do agronegócio.
  • Foco na Comunidade e Desenvolvimento Local: As cooperativas de crédito têm um forte compromisso com o desenvolvimento econômico das comunidades onde operam, reinvestindo seus recursos localmente e promovendo a economia regional.
  • Atendimento Personalizado e Próximo: As cooperativas de crédito são conhecidas pelo atendimento personalizado, com uma abordagem mais próxima e humanizada, valorizando o relacionamento direto com seus associados.

Impactos Econômicos do Cooperativismo de Crédito

O estudo utilizou a Matriz Insumo-Produto para avaliar os impactos econômicos do crédito cooperativo. Os resultados mostraram que para cada R$ 1,00 concedido em crédito, são movimentados R$ 2,56 na economia brasileira, com um acréscimo de R$ 1,17 em valor adicionado, R$ 0,11 em impostos arrecadados, e R$ 0,50 em salários pagos. Além disso, cada R$ 1 milhão em crédito concedido corresponde a 22,8 novos postos de trabalho.

Para fins ilustrativos, tomando o saldo médio anual de crédito concedido nos últimos cinco anos pelas instituições cooperativas (R$ 52,7 bilhões/ano), foram movimentados R$ 135,1 bilhões/ano na economia; acrescidos R$ 61,5 bilhões/ano em valor adicionado (cerca de 0,6% do VA da economia em 2023); e arrecadados R$ 6,0 bilhões em impostos indiretos/ano (cerca de 0,4% da arrecadação de 2023). Além disso, o crédito esteve por trás de 1,2 milhão de empregos/ano (1,1% da força de trabalho e 1,2% dos ocupados em 2023) e R$ 26 bilhões/ano em salários (0,8% da massa salarial de 2023).

A presença de cooperativas de crédito nos municípios brasileiros está associada a diversos benefícios locais. Para avaliar esses benefícios, o estudo utilizou a metodologia de diferenças-em-diferenças, que compara o desempenho de municípios com e sem cooperativas de crédito ao longo do tempo. Essa metodologia permite isolar o efeito da presença das cooperativas, controlando para outras variáveis que poderiam influenciar os resultados.

Os principais benefícios locais identificados incluem:

  • Aumento do PIB per capita: Incremento de R$ 3.852 por habitante.
  • Geração de Empregos: Aumento de 25,3 empregos formais por mil habitantes.
  • Aumento da Massa Salarial: Incremento de R$ 115,4 na massa salarial por habitante.
  • Estímulo ao Empreendedorismo: Aumento de 3,2 estabelecimentos por mil habitantes.
  • Aumento da Arrecadação Tributária: Incremento de R$ 48,1 na arrecadação municipal e R$ 506,6 na arrecadação federal por habitante.
  • Expansão das Exportações: Aumento de US$ 544,4 no valor das exportações por habitante.

As cooperativas de crédito têm um papel crucial no setor agropecuário, contribuindo para:

  • Aumento da Área Plantada: Incremento de 1,92 ponto percentual na cobertura da área municipal com plantações.
  • Aumento do Valor da Produção Agrícola: Incremento de R$ 466,3 por hectare.
  • Aumento da Produtividade Agrícola: Incremento de R$ 1.371 por hectare de área plantada.
  • Aumento do Valor da Produção Animal: Incremento de R$ 224,8 por hectare.

Municípios que têm a presença de uma cooperativa de crédito também apresentam impactos significativos em indicadores sociais e educacionais. Esses impactos incluem:

  • Redução da Pobreza: Redução de 20,5 famílias por mil habitantes no Cadastro Único e 12,3 famílias pobres por mil habitantes.
  • Redução de Beneficiários do Bolsa Família: Redução de 24,8 famílias por mil habitantes no Programa Bolsa Família.
  • Aumento das Matrículas no Ensino Superior: Incremento de 3,2 matrículas por mil habitantes.
  • Aumento dos Concluintes no Ensino Superior: Incremento de 0,22 concluintes por mil habitantes.

O estudo reafirma a importância das cooperativas de crédito no Brasil, destacando seus impactos positivos na economia local e nacional. As cooperativas de crédito não apenas promovem a inclusão financeira, mas também contribuem para o desenvolvimento econômico sustentável, a geração de empregos, a redução da pobreza e o fortalecimento da economia local e regional.

Aumento da Atividade Econômica e Renda

A presença de cooperativas de crédito tem contribuído significativamente para o aumento da renda e do nível de atividade econômica nas regiões onde estão instaladas. As cooperativas fornecem crédito acessível e adaptado às necessidades locais, permitindo que pequenos empresários, agricultores e microempreendedores ampliem seus negócios, criem novos empregos e melhorem suas condições de vida. Essa dinamização resulta em um ciclo positivo que se espalha por outras variáveis e dimensões socioeconômicas, como arrecadação tributária (municipal e federal), exportações e saldo comercial.

A atuação das cooperativas de crédito impacta positivamente os salários e as condições de trabalho nas áreas onde estão presentes. Ao financiar empresas locais e promover o empreendedorismo, as cooperativas ajudam a criar empregos, incluindo postos de menor qualificação, o que contribui para melhorar os indicadores do mercado de trabalho, potencialmente reduzindo a desocupação, a informalidade e o desalento nas localidades.

A instalação de cooperativas de crédito fortalece a economia local e regional ao reter e reinvestir recursos financeiros dentro da própria comunidade. Diferentemente dos grandes bancos comerciais, cujos lucros são muitas vezes direcionados para fora das comunidades onde operam, as cooperativas de crédito utilizam os excedentes financeiros para beneficiar diretamente seus associados e a comunidade. Esse modelo de reinvestimento local contribui para o desenvolvimento de infraestrutura, serviços e outros projetos comunitários, criando um ambiente mais resiliente e sustentável para os municípios que dispõem de sedes e postos de atendimento presencial das cooperativas.

Em linha com sua afinidade histórica, as cooperativas de crédito têm desempenhado um papel crucial no aumento da produção e produtividade agrícola e pecuária, especialmente em regiões com forte presença do agronegócio. Ao fornecer crédito para a expansão das culturas, aquisição de insumos, maquinário e tecnologia, as cooperativas ajudam os produtores a modernizar suas operações e aumentar a produção e produtividade, contribuindo para consolidar a posição atual do Brasil como um dos principais produtores e exportadores no mercado global.

Ao apoiar o setor agrícola e outros setores produtivos com crédito acessível e adaptado às necessidades locais, as cooperativas de crédito têm ajudado a expandir as exportações brasileiras, especialmente de produtos agrícolas. Esse suporte financeiro permite que os produtores invistam em melhorias que aumentam a qualidade e a quantidade da produção, tornando os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. A longo prazo, os laços entre as cooperativas e setores dinâmicos da economia fortalecem a posição do Brasil como player global, contribuindo para o equilíbrio no setor externo.

As cooperativas de crédito desempenham um papel fundamental na redução da pobreza e na promoção da inclusão financeira em áreas onde o acesso aos serviços bancários tradicionais é limitado ou inexistente. Ao fornecer microcrédito e outros serviços financeiros a comunidades locais, as cooperativas permitem que mais pessoas participem da economia formal, invistam em pequenos negócios e melhorem suas condições de vida. Essa inclusão financeira, além de fortalecer a concorrência com os bancos, contribui para a redução da pobreza e promove o desenvolvimento econômico sustentável em regiões carentes.

As cooperativas de crédito também têm um impacto positivo na educação e no desenvolvimento social das comunidades onde operam. Ao apoiar iniciativas educacionais e fornecer recursos para programas de capacitação, as cooperativas ajudam a melhorar o nível educacional e as habilidades da população local, preparando-a melhor para o mercado de trabalho e promovendo o desenvolvimento social.

Em síntese, o presente estudo reafirma, por meio de dados, estatísticas, análises e resultados de diferentes metodologias, a importância crescente das cooperativas de crédito, com destaque para as contribuições e benefícios observados tanto em nível sistêmico quanto para as economias locais. Tais benefícios podem ser atribuídos ao papel desempenhado por essas instituições financeiras na dinâmica econômica local dos municípios atendidos. Nessa esfera, os efeitos positivos são potencializados pelas características peculiares da organização e operação das cooperativas de crédito, que se inserem de forma mais ativa e participativa na vida das comunidades, construindo laços mais próximos e alinhados com as necessidades, interesses e finalidades dos cooperados, em claro contraste às iniciativas, propósitos e estratégias dos bancos tradicionais.

Fundadas a partir de valores e princípios, as instituições cooperativas têm consolidado continuamente sua posição como alternativa viável, econômica e sustentável para inclusão de famílias, pequenos produtores e empresas no Sistema Financeiro Nacional, garantindo-lhes acesso a um menu crescente de produtos e serviços bancários essenciais que transcende a histórica finalidade de disponibilizar crédito. Esses recursos, acessados em condições menos onerosas e restritivas em comparação ao segmento bancário tradicional, acabam por catalisar a demanda – consumo e investimento – nessas localidades, tornando possível o desenvolvimento de projetos e a sobrevivência de empresas e famílias, principalmente em momentos de vulnerabilidade, como aqueles observados durante a pandemia.

Esse círculo virtuoso, que se traduz no efeito dos multiplicadores apresentados, se desdobra em impulso renovado no nível de atividade, com reflexos sobre as diferentes dimensões investigadas – como emprego, produção agropecuária, comércio exterior, arrecadação de impostos, educação e pobreza. Em uma visão sistêmica, os princípios e a disseminação das cooperativas de crédito se mostram convergentes com objetivos maiores no campo das políticas públicas, tendo em vista o seu potencial impacto arrecadatório, redução da pobreza, do desemprego e das desigualdades econômicas, por um lado, e pelo aumento da concorrência e da eficiência no âmbito do Sistema Financeiro Nacional, por outro.

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Fonte: Portal do Cooperativismo de Crédito